Guru Ram Das e seus
Imensos
Milagres
“Quando o coração fica em oração,
cada batida do coração cria um
milagre.”
Yogi Bhajan
O dia havia sido bastante rico em
desafios e depois que eu aquietei em casa um sentimento de indignação começou a
rondar os meus pensamentos...
A manhã inteira eu fiquei por
conta de mais uma junta médica pericial relacionada ao meu processo de
aposentadoria no Banco Central do Brasil. Esta foi a 12º junta médica que eu
passei no último ano e seria a última instância para eu tentar reverter uma
aposentadoria por invalidez decidida à revelia das normas e dos laudos médicos.
De volta em casa, a lembrança da
notícia recente de tentativa de estupro sofrida pela filha de um casal querido,
somada à lembrança do comportamento da grande maioria dos médicos que me
avaliaram nessas 12 juntas médicas me fizeram perceber o quanto os cenários de
violência me machucavam, me entristeciam e me traziam uma sensação de
impotência. E apesar de saber que olhar para este cenário pelo foco da
indignação não era o caminho que eu deveria seguir, eu também não podia negar
que esse sentimento estava nascendo dentro de mim. Assim, tomada pelo cansaço
físico e emocional do dia, eu desejei muito “ser cuidada” para conseguir trazer
um outro olhar àquela situação e, nessa frequência, eu dormi... e recebi em
sonho um presente lindo, que eu ainda me emociono ao lembrar do quanto todas as
emoções vividas foram tão intensas e tão reais.
Yogi Bhajan veio me buscar em
casa e pediu para que eu o acompanhasse, só que de patins. Eu sempre andei bem
de patins, desde criança eu andava, mas depois que tive um tumor no cerebelo
fiquei com sequelas de equilíbrio e por isso falei para ele que de patins não
dava. Então ele me estendeu a mão, me olhou profundamente nos olhos e com um
amor que não há palavras para descrever, repetiu: “Vem de patins”. A sensação
que eu tenho é de que aquele amor preenchia o Universo inteiro assim como
preencheu todas as células do meu corpo e todos os meus dez corpos e, em
instantes, eu estava agarrada na mão dele e, é claro, de patins! E assim nós
seguimos...
Antes de chegarmos ao fim da rua
ele me fez compreender que eu já poderia soltar a sua mão e, apesar de desejar
ficar agarrada a ele para o resto da minha vida, eu também tive essa
compreensão e segui solta ao seu lado. Junto veio a compreensão maior de que os
patins foram uma forma de trazer para a minha realidade a visão de que algo
fácil para alguns, ou até mesmo para nós em uma determinada fase da vida, pode
ser muito desafiante para outras pessoas ou outros momentos de vida, e que o
amor é o sentimento que tudo cura e tudo transforma.
Pouco depois nós chegamos a um
terreno vazio no fim da minha rua, onde a Guru Amrit e um rapaz nos aguardavam.
E a partir de então o Yogi Bhajan começou a me treinar naquele local.
Primeiro ele demonstrou junto com
a Guru Amrit o que era necessário eu fazer em dupla com o rapaz e depois ele
colocou uma venda nos meus olhos. Durante todo o treinamento eu fiquei com os
olhos vendados, de patins, em um terreno de cerrado, onde o solo era irregular
e cheio de pedrinhas, e onde várias moitas de vegetação nativa se distribuíam
irregularmente pelo espaço.
Na primeira parte do treinamento
eu e o rapaz fomos colocados de costas um para o outro com os braços
entrelaçados e o Yogi Bhajan nos girava muito, muito, muito rápido enquanto me
ensinava o que fazer para que nada do que estivesse dentro de mim (representado
pelo desequilíbrio de girar tão rápido, de patins e em terreno irregular) ou do
lado de fora (aqui representado pelas moitas que eu não podia enxergar com os
olhos vendados) pudesse representar algum tipo de obstáculo.
Em pouco tempo girando eu e o
rapaz, que teoricamente seria a minha sustentação, nos soltamos e quando o Yogi
Bhajan se aproximou para saber o que houve eu logo disse que estava me sentindo
muito bem. Já o rapaz estava triste, cabisbaixo e revelou ser uma pessoa fraca,
ainda muito presa a padrões de rigidez e optou por ir embora.
Então o Yogi Bhajan colocou a
Guru Amrit para treinar comigo no lugar do rapaz e assim nós ficamos por grande
parte da noite. O que me lembro é que eu girava muito, muito rápido e assim,
girando sem parar, eu percorria aquele terreno sem tocar em nenhuma moita, eu
sabia chegar exatamente onde ele me mandava e me movia em total equilíbrio... e
ele falava comigo sem parar, gritava quando eu estava mais longe ou perdendo a
concentração, e ainda naquela aura de puro amor me treinou por um longo tempo,
até eu aprender tudo o que deveria ser aprendido.
Na última cena ele estava deitado
de lado no chão de uma calçada, dormindo, e eu deitada sobre os seus quadris e
agarrada a ele com os braços ao redor da sua cintura (porque tudo o que eu
queria era ficar agarrada a ele para sempre), pensava: “Depois que falo para o
Marco (o meu marido) que hoje eu não fui dormir em casa porque precisava ficar
agarrada com o Yogi Bhajan e ele vai entender, eu tenho certeza”.
Quando o despertador tocou eu
quase chorei por ter sido tirada daquele momento maravilhoso, só que pouco
depois eu compreendi que aquele momento maravilhoso viverá dentro de mim
eternamente...
Dois dias depois desse sonho eu
recebi mais um presente, dessa vez na forma de uma linda missão, e no dia do
aniversário do Guru Ram Das, durante a sadhana, veio a confirmação de que todo
o treinamento daquela noite foi para que eu pudesse estar pronta para cumprir
aquela missão.
Tem uma frase do Yogi Bhajan que
eu gosto de reler com frequência e abaixo eu a transcrevo para ilustrar melhor
tudo o que eu vivi nesse período do aniversário do Guru Ram Das.
“Agora se vocês querem mesmo
mudar a sua consciência, devem ter uma imagem, algo com que se relacionar. Se
vocês se relacionam com o Infinito, conseguem ir ao Infinito. Se vocês se
relacionam com o finito, vão para o finito. Isto são vocês quem decidem.
Ninguém decidirá por vocês.” – Yogi Bhajan, 26 de abril de 1973
Na Sadhana Aquariana eu encontrei
o Guru Ram Das como altar e alicerce para o meu relacionamento com o Infinito e
a ele eu ofereço o meu amor, reverência e gratidão. Ao Guru Ram Das eu ofereço
ainda o meu serviço, para que os pequenos grandes milagres que ele me concede
possam ser transformados em ações que estendam a todos o seu amor e a sua
imensa compaixão da mesma forma que eu senti das mãos do seu filho Yogi Bhajan,
um amor que preenche o Universo e é capaz de levar a todos a cura que tudo
transforma.
Ao Guru Ram Das, com amor e
gratidão por me presentear de forma tão maravilhosa no seu aniversário!
Sat Nam!
Suraj Prakash Kaur
(Brasília, 11
de outubro de 2015)