O
YOGA É
por Dharamjeet Singh
Ao contrário do que muitos pensam e
falam comigo ao saberem que sou professor de Kundalini Yoga, yoga não é só
se sentar, ficar parado e não pensar em nada. Eu, ao tentar explicar o que
é yoga, acabo dizendo que há exercícios (Asanas), respirações
(Pranayamas), posturas para as mãos (Mudras), meditações, mantras e que
o objetivo principal é a experiência pessoal de cada um ao praticar. No
entanto, isso pode soar confuso para alguém que nunca praticou. Por isso,
resolvi compartilhar algumas das minhas experiências e aprendizados com a
prática regular de Kundalini Yoga.
Quais seriam os aprendizados que
as poses e as meditações nos proporcionam, se soubermos aproveitar
a oportunidade que nos é dada?
Muitas vezes somos testados no nosso
limite através da dor. Posturas difíceis de serem sustentadas. Minutos
parecem virar horas. No entanto, continuamos firmes, porque sabemos que
o resultado final é uma paz profunda, uma sensação de dever cumprido, de
termos feito o nosso melhor, de podermos então esperar pela recompensa do
bem-estar.
É um teste de resistência física
contra a nossa própria mente. Aprendemos que a vida não é fácil e que não
podemos simplesmente mudar para um lugar mais confortável, quando uma dor
surge, pois, após poucos segundos, uma nova dor aparece, às vezes pior do
que a anterior. O melhor que podemos fazer é simplesmente aprender a
aceitar a dor, senti-la profundamente, escutar o que ela tem a nos dizer
sobre o momento que estamos atravessando e agradecer a oportunidade de
sermos testados com tamanha intensidade — tendo a certeza que logo após a
dor, se a atravessarmos com dignidade, receberemos a recompensa. Sairemos
com maior calibre, mais seguros de nós mesmos e prontos para outros testes
e desafios, que sempre existirão.
Ao permanecermos imóveis em uma
posição, também aprendemos a sermos firmes como rochas e montanhas, e a
não arredarmos o pé do que acreditamos ser o justo. Não importa o que
aconteça do lado de fora, internamente, sustentamos nossa
dignidade. Ouvimos tanto em silenciar a mente para meditar e, justamente
na hora da yoga e da meditação, todos os pensamentos resolvem aparecer.
“Buscar filhos, levar filhos; lista de compra; planos para o dia, semana,
mês; como anda aquele amigo; o que eu faria com o dinheiro da loteria;
quando serão as próximas férias; será que o professor esqueceu de mim
nesta pose”, entre tantos outros pensamentos.
Não aprendemos a silenciar a mente
no Kundalini Yoga, mas sim percebermos os pensamentos, tomamos consciência
da qualidade deles, agradecê-los e deixá-los seguirem seus
respectivos caminhos, sem nos prendermos a qualquer um deles. E, assim,
chegamos a um estado de presença, e o silêncio aparece — Shunya.
As árvores possuem uma raiz firme no
chão, mas possuem maleabilidade no tronco e nos galhos. O vento chega
acariciando suas folhas, elas farfalham e as árvores se movem. Quando,
então, o vento segue seu caminho, elas permanecem calmas, serenas e sem
preocupações. Se as árvores não tivessem esta maleabilidade, tombariam no
primeiro vento forte. E assim somos nós. Se fixarmos tamanha atenção
aos pensamentos, nos prenderemos a eles e nos perderemos no caminho do
encontro com nossa Divina Presença. Mas, se permitirmos, os pensamentos
passarão como o vento e nos deixarão em completa união com nossa mais Alta
Consciência.
Durante as aulas de Kundalini Yoga,
esbarramos em conflitos internos e emoções mal-resolvidas que nos impedem
de seguir nosso caminho livremente. Raiva, orgulho, medo, etc. Nosso lado
instintivo e animal. São registros de uma época quando sofremos abusos e
traumas. Registros que ainda operam como uma barreira de segurança ao nosso
redor. Embora a natureza livre da nossa alma queira que nos libertemos
desta prisão, muitas vezes não gostamos e nem queremos olhar para este
aspecto nosso. São nossas sombras, que podem nos confrontar por toda a
vida, se não tomarmos consciência delas, abraçá-las, resolvê-las e
devolvê-las ao Infinito.
E como num passe de mágica, sem
necessariamente tomarmos consciência do que estava travando nossa vida,
vamos liberando nossas dores, nossos medos e dúvidas, simplesmente com
nossa disciplina, mantendo uma prática regular de Kundalini Yoga e uma
sadhana diária. Vamos ficando mais leves, mais presentes,
mais conscientes, mais compassivos e compreensivos.
Começamos a nos desconectar aos
poucos de nossos apegos, falsas verdades, muletas, e nos conectamos com
nosso verdadeiro lado humano, intuitivo. Abrimos espaço para o
desconhecido. Reconhecemos conscientemente que Deus (Sagrado, Sat Nam,
Divina Presença, o nome que você der à Força que Cria) vive dentro de nós,
e vive igualmente em todas as coisas: rochas, plantas, animais, TODOS os
seres humanos (independente do nosso julgamento) planetas, galáxias, e
toda Sua Criação. E esta união com tudo e com todos é o Yoga.
A prática de exercícios físicos e
meditações são ferramentas simples e eficazes que servem para nos
tirar do lugar de conforto e nos trazer a experiência máxima desta união
com o Todo. Mas sim… Começa se sentando, não se movendo, tentando manter a
mente em silêncio, o resto da sua experiência está em suas mãos.
Sat Nam Wahe Guru
Dharamjeet Singh
Belo Horizonte, 04 de dezembro de
2013.