A ADOLESCÊNCIA E A SEXUALIDADE
por Dra. Gurusangat Kaur
Khalsa
A adolescência é uma fase
turbulenta, com muitas mudanças físicas e mentais. Essas mudanças fazem parte
natural de uma transição importante que todos fazemos para a vida adulta.
As dificuldades são
avassaladoras tanto para o jovem quanto para a família. Ninguém entende ao
certo o que está acontecendo, e muitas vezes os dois lados apenas replicam
clichês surrados que empobrecem a experiência dessa fase. Entender a
adolescência numa perspectiva biológica e emocional ajudará o adolescente e a
família a compreender essa fase e a tomar várias decisões.
Escrevo este ensaio para
conversar com você, adolescente, seus amigos e familiares. Compartilhar este
ensaio com todos pode ajudar também a descontruir o lugar comum onde o tema da
adolescência e desta importante passagem em nossas vidas foi colocado.
ADOLESCÊNCIA,
HORMÔNIOS E CÉREBRO
Você pode imaginar seus
neurônios se matando? Pois é, acontece. Esse processo é chamado de
apoptose, ou poda neural. Vou explicar por que isso acontece:
Quando você nasceu, seu
cérebro crescia 1% por dia. Cérebros de bebês, após dois dias de vida, começam
a crescer loucamente. Em 90 dias, o cérebro já cresceu 55% em relação ao
cérebro adulto! Muitos neurônios e muitas conexões são criadas para nosso
aprendizado. Com o passar do tempo, o cérebro percebe que algumas ramificações
neurais estão sendo mais usadas que outras, e assim, as que não são utilizadas
sofrem a primeira poda, com a tesoura do seu próprio cérebro.
Autores reconhecem que
pequenas podas acontecem em ciclos de 7 anos. Nestes ciclos, que no Kundalini
Yoga chamamos de ciclo de consciência, nossa visão de mundo, nosso
comportamento e a visão que temos sobre nós mesmos se modificam. Porém, a maior
poda neural que se tem notícia, e de grande impacto em sua vida, acontece
justamente na adolescência.
Neste momento, que
corresponde à segunda década de sua vida, seu cérebro inicia também a
produção de hormônios que causam grandes mudanças físicas e emocionais. Esta
etapa precede a sua entrada na irrevogável vida adulta, quando seu cérebro
finalmente amadurece completamente, não antes dos 21 anos.
ENERGIA,
EMOÇÃO E DESCONTROLE
Vamos dar uma olhada
dentro de sua cabeça, lá no seu cérebro, e entender o que está acontecendo e
que faz com que os outros rotulem o adolescente de modo pouco respeitoso.
Mas antes de chegar lá,
gostaria de te contar que muitos adultos com os quais você inclusive convive,
talvez mesmo na sua família, passaram pelo período biológico da adolescência,
porém, ainda não saíram da adolescência psíquica, que pode durar uma vida
inteira! Rá!
Veja essa imagem do
cérebro com regiões muito importantes na fase da adolescência. O Lobo Frontal,
bem ali atrás da testa, é a parte mais importante do cérebro que controla
impulsos e nos ajuda a racionalizar uma situação. Essa área é muito nobre e foi
a última a ser desenvolvida nos humanos. Na adolescência, ela ainda não está
madura, o que resulta numa capacidade zero de olhar radialmente uma
situação a fim de avaliar riscos. Estando essa região ainda imatura, o
impulso para obter prazer está muito ativo, e ela exerce um comando para que
tomemos decisões em segundos. Agora, de onde vem esse impulso e quais são
exatamente as consequências disso?
Essa impulsividade vem de
uma combinação de fatores neurológicos das outras regiões do seu cérebro,
principalmente as amígdalas cerebrais (não são as da garganta!). Nelas, você
registra fortes emoções, especialmente aquelas que lhe causaram dor e medo. As
amígdalas estão programadas, nessa fase, para deixar você ultrassensível a tudo
que pode ser uma ameaça. Você reage impulsivamente a tudo que é feito ou dito,
que não se encaixa exatamente no seu modo de ver as coisas. Você fica veemente
na defesa de seus pontos de vista, e obter prazer imediato é fundamental.
Somado a isso tudo, ainda existe uma outra região importante nessa topografia
emocional que é o núcleo acumbente. Ele impulsiona você a buscar grande
excitação sob mínimo esforço. Em resumo, a vida só é boa quando você obtém do
outro o que você quer! Parece tolo, mas é assim mesmo.
Se colocamos tudo
isso no contexto da grande poda neural que acontece nessa fase da vida, que
retira de cena muitas conexões neurais de seu cérebro, somos levados a
entender de modo muito franco e objetivo que o adolescente é, em geral:
Um jovem com muita energia
emocional, muita excitação, muitos desejos e certezas, e pouca inteligência
radial!
E isso é uma verdade
incontestável, pelo menos do ponto de vista biológico. O cérebro só estará
maduro, com redes neurais complexas, com o lobo frontal desenvolvido para
tomada de decisões menos impulsivas e habituais, e com uma forma mais
inteligente e menos emocional de existir para si e para o mundo aos 21 anos
– sendo otimista aqui. Esta outra figura mostra o processo de maturação do
cérebro. Quanto menos amarelo e vermelho, mais maduro ele está.
SEXUALIDADE
E SEXO
Adicionando mais um
elemento à turbulência desse período, a hipófise começa a estimular a liberação
dos hormônios sexuais, o FSH (folículo estimulante) e o LH (luteinizante).
Esses dois personagens são especialistas em ativar os órgãos sexuais: das
garotas, os ovários (lá estarão os óvulos), e dos garotos, os testículos (lá
ficará o esperma). Não para aí não. Há muito mais coisas importantes nessa
transição para a vida adulta. Os órgãos sexuais começam também a produzir
hormônios próprios: o estrogênio e a progesterona para garotas; a testosterona
para os garotos.
Com isso, há um aumento
de altura e peso, crescimento de pêlos nas axilas e região pubiana e pernas.
Aumenta a transpiração e aumenta a oleosidade da pele. As meninas ficam com os
seios maiores e os mamilos mais pontudos. Há também o escurecimento e
crescimento da genitália e o início da menstruação. Para os meninos,
ocorre o aumento dos testículos e do pênis, e se inicia o período das ereções e
das ejaculações, inclusive as ejaculações noturnas involuntárias. Uma nova
identidade está sendo talhada em meio a essa explosão, em todos os sentidos. A
natureza sabe o que faz. Ao seu tempo, e de forma gradual, ela conduz o
adolescente à vida adulta.
Então você, adolescente,
em meio a tantas novidades e transformações, sob o efeito natural de todos
esses hormônios, sem grande capacidade e vontade para ponderar coisas, com
grande impulso pelo prazer e com pequena capacidade de avaliar risco, sem visão
radial e com muito desejo de satisfação emocional imediata, além, claro, da
vontade de conexão com algo maior, com algo que te dê sentido e conforto, faz o
quê? Busca o que estiver à mão e o que os amigos também estão fazendo.
Normalmente são as drogas e o sexo que trazem essa oportunidade de dar vazão a
toda essa pressão existencial.
Qual é o risco disso,
claro, além da obviedade? Aquilo que poderia ser uma boa válvula de escape, de
conexão e de fortalecimento da identidade pode se tornar o elemento que te
retira de si e te aprisiona, por muito tempo, num jogo que você não conhece as
regras e não está treinado para jogar. Não vou falar de drogas nesse ensaio,
então vamos ao sexo!
QUANDO
COMEÇAR A VIDA SEXUAL
Você não tem que esperar
pelo casamento, ou mesmo pelo verdadeiro amor, e tampouco deveria se entregar
ao sexo tão facilmente. Aqui estão algumas razões para você considerar esperar
um pouco mais.
1. A
busca pela satisfação emocional instantânea cria adultos infantis. Uma das mais
desastrosas características da imaturidade emocional de adultos tem sua causa
na incapacidade da pessoa lidar com a frustração de não ter o que quer e o que
lhe dá prazer imediato. Adultos assim se tornam emocionalmente frágeis e
aprendem a fazer jogos e chantagens para obterem o que desejam. Saber esperar
só aumenta o valor e o prazer de alcançar o que se desejou e é um ótimo
treinamento para você aprender a esperar sem fazer birra.
2. Saímos
da cultura "sexo só depois do casamento" de nossos avós e passamos
para a cultura do “fazer sexo no primeiro encontro não é nada demais”. A
virgindade é vista, em muitos casos, como algo bizarro ou doentio. Acontece
que, do ponto de vista biológico e emocional, o corpo do adolescente não está
pronto para o momento da cópula, o que, por sua vez, pode ocasionar grande
pressão e trauma sobre o desempenho neurológico e glandular. Deixar que a
cultura dite as regras desse jogo é uma roubada. Só você sabe de você. Você
sabe de você além do que os seus amigos pensam?
3. Para
a saúde da mente e da psique é muito importante o tempo que se leva para
conhecer o outro, para sentir-se confortável e confiante dentro de si em
relação ao outro, e para melhorar sua comunicação quanto a sua intimidade.
Relações sexuais baseadas apenas na busca e na expressão do prazer físico
distanciam você de sua natureza mais íntima. Desta maneira, o sexo se torna
algo mecânico e insignificante, quando, de fato, ele é o momento mais
importante para se estabelecer e confirmar a identidade espiritual (nada a ver
com religião) do casal.
4. Existem
muitas outras maneiras de você expressar afeição, desejos e sensualidade e, ao
mesmo tempo, fortalecer a ligação com o outro. Descobrir outras formas de
expressar o amor, sem necessariamente usar o sexo formal, pode trazer muita
satisfação e segurança.
5. O
sexo pode fazer você acreditar que tem uma relação de confiança e induzir você
a se entregar a pessoas aparentemente interessantes, mas que de forma alguma
são adequadas. Quando você descobrir isso já será tarde demais, e muito de você
foi desrespeitado ou abusado.
6. A
liberação hormonal durante o sexo nos faz sentir conexão, amor, felicidade e
proximidade. Seu cérebro faz você a acreditar que aquela situação é muito mais
profunda do que realmente é, e aquele relacionamento muito mais especial e que
vai muito além do sexo em si. Pura fantasia, e da boa! Entretanto, há muito
sofrimento mental em adolescentes que são levados a acreditar nessas fantasias
e depois se chocam com a realidade pobre e circunstancial do relacionamento.
Isso causa muito trauma em função das memórias de dor que ficam registradas nas
amígdalas cerebrais, e isso pode ter repercussão a longo prazo na vida adulta.
7. Muitos
adolescentes fazem sexo porque querem ser adultos. Um dos pilares de um adulto
maduro, interessante e que faz a diferença no mundo em que vive é a capacidade
de manter uma elevada conexão emocional. Isso se aprende desde a infância, mas
o sexo precoce e banalizado na adolescência nos impede de
criar verdadeiramente uma conexão emocional com o outro.
INTIMIDADE
EMOCIONAL
Muitos adolescentes fazem
sexo com seus parceiros simplesmente porque todos fazem e eles não querem ser
vistos como estranhos. Um dos instrumentos que você tem para construir sua
autoestima e autorrespeito está justamente em você ser capaz de assumir sua
identidade de modo livre e soberano. Mas, culturalmente, se impôs a ideia de
que é justamente no ato sexual que vamos nos sentir amados e respeitados. Isso
é mito! Quanto menos maduros e mais necessitados de conforto emocional imediato
nós formos, mais despreparados estaremos para dar ao outro o espaço que ele
precisa para se sentir em si forte, belo e suficiente. Pense nisso!
Como dizemos no Kundalini
Yoga, um homem jamais vai querer uma mulher que não se sinta em si segura, e
uma mulher nunca vai querer um homem que não se sinta em si satisfeito.
Uma pesquisa feita sobre
o divórcio nos Estados Unidos revelou que a razão mais importante para as
mulheres quererem se separar é a infidelidade do outro; já o homem encontra na
falta de comunicação dentro da relação, a razão mais importante para a
separação. Quando perguntados sobre o que a separação trouxe de
melhor e de pior para suas vidas, as mulheres e os homens concordaram que o
pior da separação foi a solidão e o melhor foi a pessoa poder ser ela mesma!
Quando se investigou a pergunta “o que é mais importante para você no
casamento” tanto mulheres quanto homens responderam que a INTIMIDADE EMOCIONAL
é o mais importante para eles estarem felizes no relacionamento!
Isso é muito revelador do
quão essencial é o treinamento que podemos ter nos anos sensíveis e
maravilhosos da nossa adolescência para nosso futuro. Nesse período, somos
colocados frente a frente com o tema da atração e da satisfação. Algo que o
sexo precoce e desprovido de profundidade não te dará jamais é a noção de que a
atração e a satisfação não se baseiam completamente na aparência física ou no
ato sexual em si. O que mais conecta e satisfaz o casal é a energia trocada
pela aura, isto é, pela projeção de cada um envolvido na relação. Essa projeção
não é apenas a do seu corpo que seduz e é seduzido. Ela vem de dentro, das
entranhas da alma, da inteligência do espírito. Da inteligência que você troca
com alguém realmente muito especial, que entende o sexo não como uma
banalização e que não vê você como instrumento de prazer imediato.
Você entende essa dimensão do sexo?
Para chegar ao sexo
pronto para saboreá-lo em toda sua dimensão e profundidade, pelo menos seu
cérebro tem de estar preparado e em outra vibe.